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brasileiro, casado, três filhos, professor de Hebraico, Crítica do AT, Arqueologia e Grego. Bacharel em Teologia e Licenciado em Letras - Administrador de Redes

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quinta-feira, 2 de abril de 2009

Análise do Discurso em The Da Vinci Code com base no arcabouço teórico de análise ideológica de John B. Thompson

Análise do Discurso em The Da Vinci Code com base no arcabouço teórico de análise ideológica de John B. Thompson - segundo capítulo do TCC defendido na Universidade Braz Cubas em 2006 por José Ribeiro Neto

Neste capítulo verificaremos a descrição das personagens do livro de Dan Brown (2003) de modo a podermos entender como o autor, através da linguagem, deixa implícita a sua ideologia na obra The Da Vinci Code. Para isso, citaremos trechos da obra em que ele descreve as principais personagens de seu romance, de modo que, por meio dessas descrições possamos verificar, utilizando da Análise de Discurso Crítica e seguindo o arcabouço teórico de análise ideológica de Thompson, como Brown incute ao seu leitor seu pensamento a respeito dos temas referentes a Jesus, Maria Madalena, os evangelhos gnósticos, dentre outros temas relacionados com a temática da obra.
Precisaremos também intercalar a teoria de Thompson com pesquisas bíblicas acadêmicas na área de estudos do Antigo Testamento e principalmente do Novo Testamento a fim de comprovarmos a inconsistência de algumas das principais afirmações implícitas ou explícitas em Brown (2003) sobre os temas abordados em The Da Vinci Code. Utilizaremos para tanto, de autores especialistas na área de estudos bíblicos bem como de evidências arqueológicas da paleografia, dos estudos das línguas originais da Bíblia (hebraico, aramaico e grego) e de fontes históricas que fundamentem as nossas afirmações. Serão usadas ainda diversas notas de rodapé para explicar termos técnicos da área teológica ou para explicar melhor alguns fatos históricos, lingüísticos e bíblicos.

2.1 Descrição das personagens
Brown (2003) descreve as personagens de seu romance de modo a construir os elementos necessários para persuadir seu leitor a admitir como certo, como válido o sentido que quer produzir, conforme nos diz Fiorin (2002, p. 52-53) sobre as relações entre enunciador e enunciatário. Nas descrições das personagens abaixo, perceberemos implicitamente essas intenções1. Vejamos então essas descrições e percebamos a carga de motivação que elas carregam:


JACQUES SAUNIÈRE (Chapter 4, p. 25)
Langdon sensed Fache did not see at all. Jacques Sauière was considered the premiere goddess iconographer on earth. No only did Saunière have a personal passion for relics relating to fertility, goddess cults, Wicca, and the sacred feminine, but during his twenty-year tenure as curator, Saunière had helped the Louvre amass the largest collection of goddess art on earth – labrys axés from the priestesses’ oldest Greek shine in Delphi, gold caducei wands, hundreds of Tjet ankhs resembling small standing angels, sistrum rattles used in ancient Egypt to dispel evil spirits, and an astonishing array of statues decipicting Horus being nursed by the goddess Isis.

É evidente que nessa descrição Brown valoriza a personagem de Jacques Saunière com as palavras “..was considered the primiere goddess iconographer on earth.”, é uma forma de colocá-lo como um estudioso renomado e reconhecido nos meios acadêmicos, “...had helped the Louvre amass the largest collection of goddess art on earth”, a repetição da expressão “on earth” é uma espécie de elemento de persuasão para que o leitor se sinta induzido que não se trata de qualquer curioso, mas o maior especialista no assunto em todo o mundo, conduzindo o seus interlocutores a acreditarem que sua personagem tinha profundo conhecimento do assunto. Tais afirmações servirão aos propósitos posteriores do romance de convencer os leitores a acreditarem que o sagrado feminino foi perseguido, mas constitui uma espécie de religião primordial da humanidade.

ARINGAROSA (Chapter 5, p. 31):
As president-general of Opus Dei, Bishop Aringarosa had spent the last decade of his life spreading the message of “God’s Work” – literally, Opus Dei. The congregation founded in 1928 by Spanish priest Josemaría Escrivã, promoted a return to conservative Catholic values and encouraged its membres to make sweeping sacrificies in their own lives in order to do the Work of God.

A descrição dessa personagem é o contraponto da anterior, aliás, em todo o romance Brown faz contrastes. Enquanto Saunière é descrito como um estudioso, pesquisador, o maior especialista em todo o mundo, Aringarosa “had spent the last decade of his life spreading the message of `God’s Work...” e é president-general de uma instituição cujos valores “...encouraged its membres to make sweeping sacrificies in their own lives in order to do the Work of God.”. Ao ler The Da Vinci Code percebe-se esse contraste entre as instituições cristãs e as pagãs, aquelas sempre associadas a valores e estas sempre descritas como fruto de pesquisas científicas.2
Aringarosa é uma espécie de símbolo de atraso, de opressão e de imposição de conceitos medievais, enquanto que Saunière é símbolo de liberdade de inovação e de avanço científico.3

SILAS (Chapter 2, p. 12):
One mile away, the hulking albino named Silas limped through the front gate of the luxurious brownstone residence on Rue La Bruyére. The spiked cilice belt that he wore around his thing cut into his flesh, and yet his soul sang with satisfaction of service to the Lord.
Pain is good.
His red eyes scanned the lobby as he entered the residence. Empty. He climbed the stairs quietly, not wanting to awaken any of his fellow numeraries. His bedroom door was open; lock were forbidden here. He entered, closing the door behind him.

Na descrição de Silas notamos novamente o dualismo entre as instituições católicas e seus seguidores e as instituições pagãs e seus adeptos. Enquanto Aringarosa é o contraste de Saunière, Silas é o contraste de Sophie e Langdon. É descrito como um servo subserviente de Aringarosa e “...his soul sang with satisfaction of service to the Lord”, à medida em que o enredo do romance se desenrola percebe-se que as palavras dessa narrativa são irônicas, levando o leitor a ver o catolicismo e seus seguidores como antítipos de Silas, ou seja, Silas representa a cegueira e subserviência dos adeptos do catolicismo, que são fiéis servos, mas iludidos por um sistema opressor.

ROBERT LANGDON (Chapter 1, p. 7):
THE AMERICAN UNIVERSITY OF PARIS
Proudly presents
AN EVENING WITH ROBERT LANGDON
PROFESSOR OF RELIGIOUS SYMBOLOGY,
HARVARD UNIVERSYTY

Com poucas palavras, em um papel de anúncio, é perceptível a valorização que Brown dá ao herói de seu romance. Essa representação simbólica dada a Langdon será importante, pois na fala da personagem é que Brown procurará levar seus leitores a aceitar as afirmações implícitas sobre o “sagrado feminino” e sua superioridade em relação ao “machismo católico-cristão”, bem como outras afirmações de Lagdon sobre Jesus, Constantino, Evangelhos, etc.

SOPHIE NEVEU (Chapter 9, p. 55)
Sophie Neveu was one of DCPJ’s biggest mistakes. A young Parisian déchiffreuse who had studied cryptography in England at the Royal Holloway, Sophie Neveu had been foisted on Fache two years ago as part of the ministry’s attempt to incorporate more women into the police force. The ministry’s ongoing foray into political corectness, Fache argued, was weakening the departament. (...)
At thirty-two years old, she had a dogged determination that bordered on obstinate. Her eager espousal of Britain’s new criptologic methodology continually exasperated the most troubling to Fache was the inescapable universal truth that in na Office of middle-aged men, na attractive Young woman always drew eyes away from the work at hand.

Sophie Neveu é a heroína per excellence do romance, é a personagem mais valorizada por Brown, ela é o símbolo do sagrado feminino; inteligente, eficiente, jovem, atraente, motorista habilidosa, decifradora de enigmas, dentre tantas outras qualidades e habilidades dadas a ela por Brown.
Sophie, no desenrolar do enredo, é descrita como descendente de reis, portadora do Sangue Real. O climax do romance é justamente quando é descoberto que a heroína tem o sangue de Jesus correndo em suas veias. Seu oposto é Captain Bezu Fache, que por diversas vezes é descrito como inferior e menos inteligente que ela.

SIR LEIGH TEABING (Chapter 51, p. 236, 237, 238)
Langdon had first met Teabing several years ago through the British Broadcasting Corporation. Teabing had approached the BBC with a proposal for a historical documentary in which he would expose the explosive history of the Holy Grail to a mainstream television audience. (...)
“Teabing has spent his life trying to broadcast the truth about the Holy Grail. The Priory’s oath is to keep its true nature hidden.”
Langdon paused. “I’ll tel you at Teabing’s. He and I specialize in different áreas of the legend so between the two of us, you’ll get the full story.” Langdon smiled. “Besides, the Grail has been Teabing’s life, and hearing the story of the Holy Grail from Leigh Teabing will be like hearing the theory of relativity from Einstein himself.”

Percebe-se que Teabing é também o contraste com Aringarosa, tal fato é principalmente notado na mesma expressão “has spent his life trying to broadcast the truth about the Holy Grail. The Priory’s oath is to keep its true nature hidden”. A diferença é que Teabing é descrito como um estudioso renomado, um especialista comparado a Albert Einstein. Essa descrição será, sem dúvida, a mais importante em The Da Vinci Code, pois é da fala de Teabing que sairá o que podemos chamar de fundamentação da tese do romance.

CAPTAIN BEZU FACHE (Chapter 4, p. 22)
Captain Bezu Fache carried himself like na angry ox, with his wide shoulders thrown back and his chin tucked hard into his chest. His dark hair was slicked back with oil, accentuating an arrow-like widow’s peak that divided his jutting brow and preceded him like the prow of a battleship. As he advanced, his dark eyes seemed to sorch the earth before him, radiating a fiery clarity that forecast his reputation for unblinking severity in all matters.

Aqui a personagem é descrita usando suas características físicas como símbolos de seu caráter, determinação e dureza de personalidade. É o antagonista do enredo, persegue Langdon e Sophie o tempo todo e sempre é descrito como inferior aos dois em inteligência.

OPUS DEI (Fact)4
The Vatican prelature known as Opus Dei is a deeply devout Catholic sect that has been the topic of recent controversy due to reports of brain-washing, coercion, and dangerous pratice known as “corporal mortification.” Opus Dei has just completed construction of a $47 million National Headquarters at 243 Lexington Avenue in New York City

A instituição católica Opus Dei é no romance de Brown uma espécie de personagem coletiva, também antagonista e está em oposição ao Priorado de Sião. É opulenta, coercitiva e perigosa, milionária e descrita como uma instituição que sabe do segredo de Jesus e Maria Madalena, mas tenta esconder, perseguir e matar os adeptos do Priorado que detém elementos que podem revelar esse segredo e carregam o Sangue Real.

THE PRIORY OF SION (Fact)
The Priory of Sion – A European secret society founded in 1099 – is real organization. In 1975 Paris’s bibliothèque Nationale discovered parchments known as Les Dossiers Secrets, identifying numerous membres of the Priory of Sion, incluinding Sir Isaac Newton, Botticelli, Victor Hugo and Leonardo da Vinci.

O discurso ideológico de Brown é sutilmente percebido aqui, apesar de deixar claro nas páginas introdutórias que se trata de um romance, o autor procura nas primeiras páginas levar o leitor a aceitar que as informações a respeito de instituições e documentos descritas no romance são verídicas. Na citação acima percebemos que o autor relaciona pessoas de importância na história como tendo feito parte do Priorado de Sião.

2.2 Enredo do romance

O Enredo do romance se desenvolve da seguinte forma: 5 Enquanto está em Paris para uma palestra sobre simbologia religiosa, Robert Langdon, um estudioso de simbologia de Harvard, recebe um telefone em que é informado que o curador do museu do Louvre foi assassinado dentro do museu.
Tendo sido chamado para decifrar figuras enigmáticas próximas ao corpo encontra-se com a criptologista Sophie Nevue, mais tarde fica sabendo que a mesma era neta do falecido Jacques Saunière, o curador do museu. Desconfiando de Langdon, Captain Bezu, sorrateiramente procura segurá-lo no museu para posteriormente incriminá-lo, sendo informado por Sophie do plano do policial inicia-se uma fuga do museu em meio a uma tentativa de decifrar as mensagens secretas deixadas por Saunière nos seus últimos momentos de vida.
Paralelamente a esses acontecimentos somos informados de Silas, assassino de Sanière e servo fiel de Aringarosa, presidente da Opus Dei, uma sociedade misteriosa ultra-ortodoxa dentro da igreja católica, está tentando impedir que segredos milenares que comprometerão todo o cristianismo sejam revelados. Entre perseguições e mistérios revelados, ficamos sabendo que Leonardo Da Vinci, em sua pintura da Santa Ceia, deixa implícitos segredos sobre uma outra história da vida de Jesus. Ele foi casado com Maria Madalena e teve uma filha chamada Sara, perpetuando a sua semente, o Sangue Real (Santo Graal), este fato foi escondido pela igreja católica que no decorrer da história perseguiu as mulheres, escondendo e inibindo o culto ao sagrado feminino. Por intermédio de Constantino, que no Concílio de Nicéia impediu a entrada dos evangelhos gnósticos que valorizavam a mulher e o sagrado feminino. O Priorado de Sião é então a sociedade secreta que procura manter viva essa verdade e preservar o Sangue Real de Jesus, a Opus Dei, sua opositora, procura impedir a revelação dessa verdade, tudo isso é informado em uma conversa noturna na casa de um rico estudioso aficionado pelo Santo Graal, Sir Leigh Teabing. Em meio a toda essa teoria da conspiração é nos informado que personagens ilustres da História tais como Isaac Newton, Leonardo Da Vinci e o próprio Saunière faziam parte do Priorado de Sião e eram mantenedores desse segredo, que o Santo Graal era uma mulher, Maria Madalena e que o fruto do ventre dessa mulher guardava a semente de Jesus. Por fim, na procura de Langdon e Sophie pelo Sangue Real descobre-se após desvendarem-se vários enigmas que a própria Sophie era descendente de Jesus e carregava o Sangue Real em suas veias.
Após verificarmos o modo como Brown descreve suas personagens e desenvolve o enredo do romance, podemos analisar a obra através do arcabouço teórico para análise ideológica presente em Thompson (1995, p.81), o que veremos detalhadamente nos tópicos a seguir.

2.3 Legitimação

Todos nós queremos dar legitimação ao que falamos e para isso nos utilizamos recursos lingüísticos, conscientes ou inconscientes, de modo que o nosso falar leva nosso interlocutor a aceitar as afirmativas ou negações que fazemos. A legitimação não é exclusiva a nenhum tipo de discurso, todos os discursos (religioso, político, familiar, acadêmico, científico, etc.) possuí sua forma de fundamentar aquilo que diz para seus interlocutores, é evidente que na sociedade moderna e pós-moderna os discursos legitimados através de provas científicas são os mais aceitos e mais utilizados na mídia de massa e até mesmo em conversas informais.
Segundo THOMPSON (1998, p. 164):

O terceiro aspecto da tradição é o legitimador. A tradição pode, em certas circunstâncias, servir como fonte de apoio para o exercício do poder e da autoridade. Este aspecto foi muito bem abordado por Max Weber. De acordo com ele, há três maneiras principais de estabelecer a legitimidade de um sistema de dominação. Reivindicações de legitimidade podem se basear em fundamentos racionais, envolvendo uma crença na legalidade de normas promulgadas (que Weber chama de ‘autoridade legal’); podem se basear em fundamentos carismáticos, implicando a devoção à santidade ou ao caráter excepcional de um indivíduo (‘autoridade carismática’); ou podem se basear em fundamentos tradicionais, envolvendo uma crença no caráter sagrado das tradições imemoriais (‘autoridade tradicional’).

Dos aspectos tratados por Weber, de acordo com a citação acima, podemos verificar que Dan Brown, em The Da Vinci Code, utiliza-se muito mais da legitimação através de fundamentos racionais, é claro, contudo, que os fundamentos racionais são construídos através de muitos outros artifícios em que Brown busca levar os seus leitores a acreditarem na lógica dos argumentos do livro.
O estilo do livro em Romance Moderno pode também ser entendido como um artifício para não se comprometer tanto com os argumentos colocados, tendo em vista que o autor não é especialista em nem uma das áreas que discute no livro, não poderia escrever um livro de uma forma acadêmica para provar seus argumentos, assim, escreve em forma de romance, que é um estilo envolvente, conduzindo o leitor emocionalmente a acreditar em seus argumentos. Veremos nesse capítulo os recursos utilizados por Brown para dar legitimação aos argumentos colocados em seu romance.

2.3.1 Racionalização

Dan Brown se utiliza da Legitimação por meio da Racionalização quando procura fundamentar sua história em um personagem importante da história, Jesus. Através de uma cadeia de raciocínios procura mostrar que Jesus se casou com Maria Madalena, teve uma filha chamada Sara, a igreja católica perseguiu essa filha por ser um desafio ao machismo dominante na igreja.
A relação de acontecimentos continua quando Brown vai gradativamente mostrando fatos que aconteceram na história e ligando esses fatos à Opus Dei, uma sociedade secreta controversa dentro do catolicismo e o Priorado de Sião, uma extinta sociedade, mas que Brown afirma estar viva e sendo protetora do segredo do Sagrado Feminino e da Semente de Jesus.
Alguns pontos importantes nas afirmações implícitas em The Da Vinci Code precisam ser esclarecidas para verificarmos a falácia dos argumentos de Brown:
O que a Bíblia diz sobre Maria Madalena? 6
Lc 8.1-3 – discípula que foi liberta de demônios por Jesus e dava suporte a ele em suas viagens junto com outras mulheres.
Mt 27.55,56 – estava presente à crucificação. Em nenhum relato dos evangelhos ela é vista sozinha, sempre está com um grupo de mulheres (Mc 15.40,41; Jo 19.25), nunca é descrita isolada.
Mt 27.67 – no local da crucificação com a outra Maria, Mc 15.40 com a Maria mãe de Tiago, o jovem, e de José e Salomé, mais outras mulheres. As mencionadas eram importantes igualmente.
Mt 28.1 – como testemunha da ressurreição de Jesus, junto com outra Maria (Mc 16.1; Lc 8.2,3 apresenta ainda Joana e a mãe de Tiago).
Mc 16.9 – citada como aquela a quem Jesus apareceu e recebeu libertação de demônios. Lc 24.10 a apresenta numa comitiva.
João 20.11-18
É a única vez que Jesus e Maria Madalena estiveram sozinhos! Ela o vê ressuscitado! Alegre e surpresa se abraça a Ele!
Jesus, discreto, diz para ela aguardar a alegria no Reino dos Céus, com o Pai!
Ela sai de cena com a mensagem da ressurreição para levar adiante.
Alguns dizem que se tornou apóstola... Mas não como os 12 apóstolos!
A totalidade dos relatos bíblicos: 12 referências.
Sempre acompanhada, jamais citada ou relacionada com Jesus de outra forma.

No livro The Da Vinci Code, Brown (2003) coloca as seguintes palavras na boca de Teabing:
And the companion of the Saviour is Mary Magdalene. Christ loved her more than all the disciples and used to kiss her often on her mouth. The rest of the disciples were offended by it and expressed disapproval. They said him, “Why do you love her more than all of us?” 7
The words surprised Sophie, and yet they hardly seemed conclusive. “It says nothing of marriage.”
“Au contraire.” Teabing smiled8, poiting to the first line. “As any Aramaic scholar will tell you, the word companion, in those days, literally meant spouse.”

Pontuemos os erros cometidos por Brown em suas afirmações feitas na fala de Teabing:
O texto do Evangelho de Felipe não foi escrito em aramaico e sim em copta9, um desenvolvimento posterior do egípcio com caracteres gregos, sendo assim não temos como saber qual a palavra aramaica Jesus teria usado10, podemos somente supor11. No Novo Testamento grego temos a palavra guinaiki (gunaiki,)12, em Lucas 2.5, que significa mulher, mas usada no sentido de esposa 13.
Lutzer (2004, p. 78) nos diz algo semelhante sobre o fato:
Naturalmente, poderíamos observar que esse texto não nos chegou em aramaico, mas em copta. Além do mais, a palavra para “companheira”, em ambas as línguas, é muitas vezes usada em referência a “amizade” – de modo algum terá o significado invariável de “esposa”

Se quiséssemos avançar para levantar um hipótese do uso aramaico da palavra, poderíamos consultar a Peshita14, que traz em Marcos 15.40 a palavra nesha’ avn e aparece no plural em Marcos 5.33 como antta’ Ftna as mulheres. Ora, sendo o Evangelho de Felipe escrito em copta poderia utilizar a palavra s-hime (asswqwsHime)15 que é a palavra para mulher e traduziria o conceito aramaico de mulher, esposa, ou a palavra copta sheleet (Seleet) que é a palavra para casar, casamento.16 Mas como temos somente a tradução é impossível inferir qual foi a palavra utilizada por Jesus na conversa com os discípulos no texto do Evangelho de Filipe. Além do mais, no texto do Evangelho de Filipe há as seguintes brechas no manuscrito: “E a companheira de [.....] Maria Madalena. [.....amou] a ela mais que a [todos] os discípulos e [costumava] beijá-la [sempre] na [.....]”, ou seja, a palavra “boca” não aparece nem mesmo no texto copta, há uma brecha no manuscrito, é uma conjectura com base no espaçamento das letras. Nos outros tópicos desenvolveremos mais a questão dos evangelhos gnósticos.

2.3.2 Universalização

Segundo Thompsom (1995, p. 83):

Outra estratégia típica é a universalização. Através dessa estratégia, acordos institucionais que servem aos interesses de alguns indivíduos são apresentados como servindo aos interesses de todos, e esses acordos são vistos como estando abertos, em princípio, a qualquer um que tenha a habilidade e a tendência de ser neles bem sucedido.

A legitimação continua através da Universalização. Brown utiliza-se de interesses específicos, no caso os interesses da Opus Dei, como se fossem os interesses de toda a igreja católica, o que não condiz com a realidade, tendo em vista que o catolicismo romano ter em seu meio diversos grupos, os mais diferentes: Carmelitas, Franciscanos, Beneditinos, Carismáticos, etc. Cada qual com suas idiossincrasias e interesses particulares que não incluem nenhuma perseguição à mulheres e nenhum interesse em esconder o sagrado feminino. Aliás, existem várias ordens católicas lideradas por mulheres e que tem interesses mais voltados à caridade e a assistência à mulheres vítimas de preconceitos, prostituídas e tantos outros interesses que não são os interesses particulares da Opus Dei.
Mesmo a Opus Dei, tem, na verdade, interesses específicos desconhecidos, o que serve como base para Brown explorá-los e direcioná-los na legitimação de suas idéias universalizando tais interesses ocultos como se fossem os interesses de todo o cristianismo.

2.3.3 Narrativização

O terceiro argumento utilizado para a Legitimação é a Narrativização, para isso Brown utiliza-se de dois fatos históricos de grande importância para o cristianismo: A pessoa de Constantino e o Concílio de Nicéia.
As posições e atitudes controversas de Constantino no passado, sua conversão tardia, no leito de morte, seu patente uso de símbolos e datas pagãs, sua influência para a realização do Concílio de Nicéia e a própria discussão do Concílio são argumentos utilizados pelo autor como exigências de legitimação inseridas no passado que buscam dar legitimação para os argumentos do autor no presente: que os livros da Bíblia foram decididos por Constantino e aqueles livros que davam suporte ao Sagrado Feminino foram excluídos por razões machistas.
Vejamos dados históricos sobre Constantino no Concílio de Nicéia, como nos conta Lutzer (2004, p. 40-41):
O código Da Vinci, assim como muitos textos ocultistas, afirma que Constantino e seus representantes decidiram eliminar livros específicos do Novo Testamento, excluindo tudo o que se opusesse a sua teologia do domínio masculino e a seu esforço pela repressão sexual.
Pude ler visão semelhante em The Templar revelation [A revelação dos templários], livro em harmonia com O código Da Vinci que alega apresentar a plausibilidade histórica desses acontecimentos. (...)
(...) os dados históricos sobre Nicéia não trazem prova alguma de que Constantino e os representantes tivessem sequer discutido os evangelhos gnósticos ou qualquer outra coisa a respeito do cânon. Por mais que tentasse, não achei uma única linha nos documentos sobre Nicéia que registrasse algum debate sobre os livros que deveriam ou não entrar no Novo Testamento. Praticamente tudo o que sabemos sobre Nicéia vem do historiador Eusébio. Ora, nem ele nem mais ninguém dá qualquer sinal de que tais assuntos tivessem sido debatidos. Vinte decretos foram promulgados em Nicéia, e o conteúdo de cada um deles ainda está disponível. Nem um único diz respeito ao cânon.
Por sorte, consegui rastrear a fonte desse engano. O barão D’Holbach, em Ecce homo, escreve: “A definição dos evangelhos autênticos e espúrios não foi debatida no primeiro Concílio de Nicéia. Essa história é fictícia”. D’Holbach identifica Voltaire como a origem da ficção, mas, ao pesquisar mais profundamente descobrimos uma fonte ainda mais antiga para esse boato.
Um documento anônimo chamado Vetus Synodicon, escrito por volta de 887 d.C.; tem um capítulo dedicado a cada concílio realizado até aquela data. Todavia, o compilador acrescenta detalhes ausentes nos registros históricos. Em seu relato sobre Nicéia, ele escreve que o concílio tratou de assuntos como a divindade de Jesus, a Trindade e cânon.
Ele diz: “os livros canônicos e apócrifos foram diferenciados da seguinte maneira: na casa de Deus os livros eram colocados no chão, ao lado do altar sagrado. Então o conselho orava ao Senhor, pedindo que as obras inspiradas fossem encontradas em cima do altar, como de fato acontecia”. Está mais do que claro que isso não passa de lenda.
Não há menção alguma de tais procedimentos nos documentos principais que dizem respeito a Nicéia.
Ainda que essa história fosse verdadeira continuaria sem comprovação e afirmação de que o concílio rejeitou determinados livros do Novo Testamento por promoverem o feminismo ou a idéia de que Maria Madalena fora casada com Jesus.

Os documentos do Concílio estão disponíveis e eles não dizem nada sobre a aprovação do cânon 17 e a exclusão dos apócrifos por motivos machistas, mas Brown (2003), para dar legitimidade à sua ideologia pagã-feminista, utiliza-se de uma personagem histórica importante como Constantino e um Concílio importante como o de Nicéia para conduzir logicamente o seu leitor a acreditar nas afirmativas de seu livro.18 A explicação mais lógica para a formação cânon do Novo Testamento é que o mesmo foi sendo formado e aceito por dois principais critérios: 1) a origem apostólica do livros e 2) o uso que a igreja cristã fazia do mesmo. Sendo assim, livros que não foram comprovados como tendo sido escritos por um apóstolo ou alguém ligado a um apóstolo eram imediatamente descartados e deixados de lado. No segundo caso, os livros que tinham dificuldades de provarem sua origem apostólica acabaram por serem aceitos pelo uso constante que a igreja cristã fazia deles.
Quanto aos livros chamados apócrifos ou pseudo-epígrafos19 foram imediatamente rejeitados, eram pouco utilizados e quase ninguém os copiava, ficando assim sua preservação reservada à grupos dissidentes, chamados pelos primeiros cristãos de heréticos, que encontravam nesses livros algum apoio às suas doutrinas. Outros livros, como é o caso dos evangelhos e escritos gnósticos encontrados em 1945 em Nag Hamad, no Egito, eram traduções, muitas parafraseadas, de versões gregas mais antigas criadas para defender posições completamente diferentes das que estavam contidas nos chamados evangelhos canônicos.
A discussão ampla dessa questão não nos cabe aqui, todavia, é fato que não há qualquer prova de que fora Constantino quem determinara quais seriam os livros que comporiam a Bíblia, mas como ele é uma personagem histórica controversa na história da igreja cristã é usada por Brown como uma forma de legitimação de sua ideologia pagã-feminista.

2.4 Dissimulação

De acordo com Thompson (1995, p. 83):
Um segundo modus operandi da ideologia é a dissimulação. Relações de dominação podem ser estabelecidas e sustentadas pelo fato de serem ocultadas, negadas ou obscurecidas, ou pelo fato de serem representadas de uma maneira que desvia nossa atenção, ou passa por cima de relações e processo existentes. A ideologia como dissimulação pode ser expressa em formas simbólicas através de uma variedade de diferentes estratégias.

Thompson divide a Dissimulação em três estratégias básicas: 1) o deslocamento; 2) a eufemização e 3) o tropo. Comentaremos abaixo como tais estratégias de dissimulação são usadas por Brown para fundamentar suas idéias em The Da Vinci Code.

2.4.1 Deslocamento

Thompson (1995) usa o termo deslocamento para se referir a determinado objeto ou pessoa que é utilizado para se referir a um outro “...e com isso as conotações positivas ou negativas do termo são transferidas para outro objeto ou pessoa” (THOMPSON, 1995, p. 84).
A Dissimulação por Deslocamento é sutilmente utilizada por Brown para fundamentar sua ideologia pagão-feminista. Ele utiliza-se no livro de um jogo de palavras: Saint Graal com Sang Real. Também diz que existem mais de 80 Evangelhos quando na verdade só são conhecidos menos de 12. Faz ainda uma relação com os achados dos Manuscritos do Mar Morto com os de Nag Hamad, que realmente não têm relação.
Mais uma vez, é na fala de Sir Teabing que Brown (2003, p. 251) coloca essas afirmações:
“More than eighty gospels were considered for the New Testament, and yet only a relative few were chosen for inclusion – Matthew, Mark, Luke, and John among them.”

Como o livro de Brown está em forma de romance ele faz afirmações sem dar qualquer evidência e fundamentação, utiliza a fala de suas personagens para validar suas idéias e assim não se compromete com as afirmações que indiretamente faz. Todavia, há no início do livro The Da Vinci Code uma afirmação comprometedora, Brown (2003, p. 1): “All descriptions of artwork, architecture, documents, and secret rituals in this novel are accurate.”
Vejamos o que nos diz McDowell (2006, p. 39) sobre a precisão dos fatos colocados por Brown a respeito dos evangelhos:
Não havia mais de oitenta evangelhos. Por exemplo, a Coletânea Nag Hamadi, publicada em inglês em 1977, consistia apenas de quarenta e cinco títulos diferentes – nem todos eles eram evangelhos. Na verdade, ela menciona cinco trabalhos distintos de evangelhos: Verdade, Tomé, Felipe, Egípcios e Maria. A coletânea das Escrituras Gnósticas, de Bentley Layton tem apenas quarenta trabalhos, três dos quais levam o título de evangelhos e também são citados na Nag Hamadi. Na verdade, a maior parte desses trabalhos não era composta por evangelhos. A contagem mais generosa de documentos extra-bíblicos aparece em Havard, na obra Introduction to the New Testament [Introdução ao Novo Testamento], do professor Helmut Koester. Essa contagem chega aos sessenta, fora os vinte e sete livros do Novo Testamento. Entretanto, a vasta maioria desses livros não era composta por evangelhos.20

A citação de Mcdowell mostra que não há nenhuma precisão nas afirmações de Brown sobre documentos, mas por meio de deslocamento ele dissimula os fatos para defender sua ideologia pagã-feminista.
Entretanto, o deslocamento mais absurdo está nas informações que Brown nos dá a respeito do Manuscritos do Mar Morto, Brown (2003, p. 254-255):
“Fortunately for historians,” Teabing said, “some of the gospels that Constantine attemped to eradicate managed to survive. The Dead Sea Scrolls were found in the 1950s hidden in a cave near Qumran in the Judean desert. And, of course, the Coptic Scrolls in 1945 at Nag Hammadi.

Os manuscritos do mar morto foram encontrados em 1946/1947 e se trata de aproximadamente oitocentos manuscritos do Antigo Testamento, provenientes de uma seita21 ascética judaica, que se isolou nas cavernas do deserto da Judéia. Entre os manuscritos estão textos que vão desde o ano 250 a.C. até o ano 68 d.C.
Não há entre os manuscritos nenhum evangelho gnóstico e nenhum escrito neotestamentário, somente um minúsculo fragmento chamado de 7Q5, que pode ser um trecho de Marcos 6.52-53, mas que está ainda em debate.22 A questão é que não há documentos encontrados que provem a afirmação de Brown de que Constantino procurou erradicar esses evangelhos e felizmente para os historiadores eles foram encontrados em Qumran. Brown está deslocando os fatos para dissimular seus leitores a aceitarem sua ideologia.

2.4.2 Eufemização

O Dissimulação por Eufemização, se dá, em The Da Vinci Code quando Brown descreve de forma positiva o Priorado de Sião, quando sabemos, historicamente, que tal grupo era confuso e muitas vezes tolo, mas no livro é tido como o grupo protetor do segredo do Sangue Real e o Sagrado Feminino.
Um outro elemento de Dissimulação por Eufemização ocorre quando Brown valoriza o paganismo, que sabemos, em muitas de suas formas praticava o sacrifício de crianças, prostituição cultual, em que uma mulher era tomada do meio do povo para servir aos deuses como uma prostituta cultual tendo que ficar presa nos templos tendo relações sexuais com os adoradores daquele deus ou com os sacerdotes daquela religião.
O livro valoriza os rituais secretos como sendo uma forma de guardar segredos importantes que atravessam gerações, mas sabemos que em muitos rituais secretos, há, ainda hoje, sacrifício de crianças, mutilações, orgias macabras e outras atividades nada valorizadas pela sociedade moderna.

2.4.3 Tropo

Thompson (1995, p. 84) define sua compreensão desse recurso com as seguintes palavras:

Por tropo entendo o uso figurativo da linguagem ou, mais em geral, das formas simbólicas. O uso do tropo é, geralmente, confinado ao domínio da literatura, mas o uso figurativo da linguagem é muito mais amplo do que essa especialização disciplinar possa sugerir. Entre as formas mais comuns de tropo estão a sinédoque, a metonímia e a metáfora. Todas elas podem ser usadas para dissimular relações de dominação. A sinédoque envolve a junção semântica da parte a fim de se referir a uma parte. Essa técnica pode dissimular relações sociais, através da confusão ou da inversão das relações sociais, através da confusão ou da inversão das relações entre coletividades e suas partes, entre grupos particulares e formações sociais e políticas mais amplas – de modo tal que, por exemplo, termos genéricos como “os ingleses”, “os americanos”, “os russos”, passam a ser usados para se referir a governos particulares ou a grupos dentro de um estado nação. A metonímia envolve o uso de um termo que toma o lugar de um atributo, de um adjunto, ou de uma característica relacionada a algo para se referir à própria coisa, embora não exista conexão necessária entre o termo e a coisa à qual alguém possa estar se referindo. Através do uso da metonímia, o referente pode estar suposto sem que isso seja dito explicitamente, ou pode ser avaliado valorativamente, de maneira positiva ou negativa, através da associação com algo (...)

A preocupação de Thompson (1995) é mais como a análise do discurso ideológico dentro das estruturas de poder nas sociedades modernas, sendo o autor sociólogo, utiliza-se da análise das figuras de linguagem para evidenciar o discurso dessas classes dominantes em seus enunciados políticos. Embora seja importante essa análise dentro da estrutura social, para nós, a análise serve para a percepção dos elementos discursivos ideológicos presentes na obra literária. Em Brown (2003) o uso da estratégia de dissimulação por tropo (figura de linguagem), ocorre em The Da Vinci Code nas figuras:

1)Saint Graal como um símbolo do Sangue Real perpetuado por gerações e presente na nossa era;
2)O símbolo que, segundo autor, é um símbolo do útero materno e está ocultamente presente na pintura da Santa Ceia de Leonardo Da Vinci

Vejamos a citação de Brown (2003, p.257) em que essa simbolização ocorre:
Langdon winced. “Moving on, the female symbol, as you might imagine, is the exact opposite.” He drew another symbol on the page. “This is called the chalice.”



Sophie glancep up, looking surprised.
Langdon could see she had made the conection. “The chalice,” he said, “resembles a cup or vessel, and more important, it resmbles the shape of a woman’s womb. This symbol communicates femininity, womanhood, and fertility.” Langadon looked directly at her now. “Sophie, legend tells us the Holy Grail. That is to say, the legend uses the chalices as a metaphor for something far more important.”

Percebemos os usos metafóricos e simbólicos que Brown faz para validar suas idéias, o uso de tropos é constante também em outras passagens em The Da Vinci Code, de modo que o leitor é envolvido em todo um conteúdo simbólico no romance.

Definições e Princípios Gerais da Arqueologia Bíblica

Definições e Princípios Gerais da Arqueologia Bíblica - por José Ribeiro Neto

  • A arqueologia é uma ciência nova, mais nova ainda é a arqueologia bíblica, muito questionada pelos arqueólogos seculares que afirmam que uma arqueologia bíblica não é possível, logo que a Bíblia não é um livro 100% confiável. Do lado dos estudiosos bíblicos se afirma que os que não querem aceitar a Bíblia como documento histórico carregam a priori um desprezo para com o livro sagrado, e não fazem ciência verdadeira, antes têm preconceitos que os impedem de enxergar a veracidade dos relatos bíblicos.

A palavra arqueologia é formada de duas palavras gregas: a;rcaioj (archaios)= original, primitivo, velho e logi,a (loguia) = estudo.

No correr do séc. XIX, o mesmo vocábulo assume a significação técnica de ‘estudo científico dos monumentos e remanescentes documentos, lato sensu, dos períodos pré-históricos’1.

A partir do séc. XIX, contudo, é que a palavra começa a assumir o sentido técnico: “Estudo científico dos monumentos e remanescentes documentos”.

A arqueologia é um campo restrito e específico do conhecimento humano e procura reconstruir o passado histórico do homem, bem como as fases iniciais da cultura humana. Através de diversos achados e técnicas desenvolvidas ao longo do progresso dessa ciência, os arqueólogos são capazes de preencher as lacunas deixadas pelos textos escritos, pois para o estudo arqueológico cada material encontrado conta algo a respeito daquele povo ou daquele grupo de pessoas, desde vasos ou pedaços de vasos a dentes e esqueletos podem falar muito sobre a cultura humana do passado.

Através do estudo arqueológico é possível preencher as lacunas deixadas pelos textos de modo que a arqueologia e paleografia se completam para levantar a história de determinada cultura.

Há dificuldades de conceituar e delinear os objetos da arqueologia mesmo entre os pesquisadores.

Há divergências de opiniões entre os especialistas, quanto ao seu campo específico de estudo e às suas filiações. Para uma corrente, a Arqueologia integra-se na antropologia cultural. Clark Wissler, por exemplo, diz que Antropologia é termo que designa a ciência do estudo do homem, sendo a Arqueologia uma de suas divisões. Mais recentemente outro autor, James Deetz, define ainda mais diretamente a Arqueologia como um ramo da Antropologia.
Outro grupo argumenta que a Arqueologia se ocupa da reconstrução do passado mais remoto como um todo. Em conseqüência, ela é uma disciplina histórica. Gordon Childe, por exemplo, a classifica como ‘uma forma de história’.
Na realidade, a Arqueologia utiliza-se dos métodos desenvolvidos pela Antropologia Cultural, principalmente no que concerne a certas técnicas de interpretação utilizadas. No entanto, seus objetivos são basicamente históricos, pois as reconstituições elaboradas ou insinuadas por ela se relacionam, sempre, a um grupo humano que ocupou determinado lugar no espaço e esteve situado no tempo.2


Mesmo havendo toda essa dificuldade de definição específica da Arqueologia, em termos gerais ela é definida como a ciência que busca reconstruir as imagens da vida através de evidências materiais que restaram do passado.

2. Arqueologia Bíblica, um desafio maior

Temos de ter claro em nossas mentes que a Arqueologia não provará a Bíblia para nós e nem anulará as Sagradas Escrituras. Tendo em vista que a nossa confiança na Bíblia está embasada na fé, não podemos esperar que uma ciência secular a aprove ou desaprove, pois se assim for, a nossa fé estará embasada não nas Escrituras, mas nas técnicas e percepções do homem, e ainda, teremos uma fundamentação oscilante, já que a ciência tem por característica a instabilidade de suas teorias. Nossos irmãos no passado não conheceram a Arqueologia e nem os achados que hoje conhecemos e nem por isso deixaram de aceitar como verídicos os relatos bíblicos.

Muitos estudantes, ao ingressarem na vida acadêmica secular, dão ouvido às primeiras informações de seus mestres, muitas vezes ateus, sobre determinado fato histórico ou achado arqueológico que supostamente “desmente” a Bíblia. Fazendo assim, estão dando crédito à percepção histórica e a cosmovisão ateística de que a Bíblia não é verdadeira. Entretanto, a história da apologética cristã mostra que a Bíblia sempre venceu os pressupostos ateus daqueles que procuravam desacredita-la e no final sempre ficou provada a veracidade e a precisão de seus relatos em detrimento às afirmações que procuravam contradize-la.

No campo da Arqueologia Bíblica, então, vale a paciência. Não devemos vender o nosso direito de primogenitura pela primeira “sopa” de argumentos supostamente científicos. A certeza de que a Bíblia diz a verdade ainda que contrarie a História e a Arqueologia profana. O tempo mostrará que a Bíblia sempre está certa em tudo que afirma.

O estudante pode então perguntar: Se é assim então para que serve a Arqueologia? Serve para muitos fins e citaremos em seguida alguns que consideramos importantes:

1.º Para a defesa da fé cristã e de sua veracidade histórica que a diferencia de todas as outras religiões que se baseiam em mitos e lendas, enquanto que a Bíblia se fundamenta na história e pode ser verificada à luz das descobertas arqueológicas sérias e sem pressupostos ateísticos;

2.º Para reconstruir o ambiente histórico bíblico, esclarecendo assim o que o texto quis dizer com determinada palavra, expressão ou costume dos tempos bíblicos;

3.º Para a reconstrução da história dos homens e mulheres que são relatados na Bíblia, isto se torna muito útil para o ensino e a pregação da Palavra de Deus.

A Arqueologia bíblica é uma divisão da Arqueologia, e é reconhecida até mesmo nos meios acadêmicos seculares, como podemos verificar:

O estudo das chamadas sociedades ‘históricas’, do ponto de vista arqueológico, leva freqüentemente à especialização de conhecimentos e, em conseqüência, a designações específicas, como ‘arqueologia egípcia’, ‘arqueologia bíblica’, etc (...)3

A Enciclopédia Mirador, dá ainda a seguinte definição para Arqueologia Bíblica:

Arqueologia Bíblica é a ciência das coisas antigas relacionadas direta ou indiretamente com a Bíblia, e cujo conhecimento é necessário ou, pelo menos, útil para a melhor compreensão dos textos sagrados. Concebida nesses termos, equivale a uma história da civilização dos povos bíblicos, sobretudo o israelítico-judaico-cristão. Quando Israel entrou no país de Canaã. Já ali existiam cultura e civilizações de muitos séculos. O Israel bíblico não teve de criar tudo ab ovo4: língua, escrita, costumes, religião já eram antigos nos sécs. XIII e XII a.C.5

Atualmente, a Arqueologia Bíblica tem sofrido ferrenhos ataques, sobretudo em Israel, onde a briga entre israelitas e palestinos tem feito os palestinos acusarem Israel de fazer Arqueologia com fins políticos. Ou seja, comprovar os fatos bíblicos seria argumento do lado de Israel para afirmar seu direito a terra, logo que se seus antepassados já haviam conquistado a terra em tempos remotos, o povo de Israel tem direito a terra, pois estava ali primeiro.

Diante deste contexto político em Israel, se faz muito mais necessária a comprovação arqueológica irrefutável, tarefa que nem sempre é possível, tendo em vista a distância histórica dos acontecimentos bíblicos. Mesmo sítios arqueológicos tradicionais como: Ur, Massada, Jericó, etc. têm sido contestados pela Arqueologia moderna através de teorias diferentes das que já tinham sido estabelecidas.

Outro fator prejudicial para a Arqueologia Bíblica foi a invasão do Afeganistão pelos E.U.A., que gerou ódio no mundo árabe pelo ocidente, dificultando a pesquisa arqueológica em países muçulmanos, onde hoje está a maioria dos sítios arqueológicos relacionados com a Bíblia.

Também a invasão do Iraque danificou construções e museus que continham escritos referentes à antiga Babilônia. Embora muito desse material já havia sido antes publicado, não sabemos ainda os danos decorrentes desses recentes incidentes para a Arqueologia Bíblica. Sabemos, entretanto, que museus foram saqueados, material arqueológico foi contrabandeado e outros matérias foram completamente destruídos.

3. Sítios Arqueológicos

Sítios arqueológicos são locais de escavação de extrema importância para o arqueólogo, já que o principal trabalho do arqueólogo de campo e sem o levantamento preciso de informações de campo nem mesmo o arqueólogo de escritório pode trabalhar, já que sem levantamento preciso nos sítios não há dados para se trabalhar as teorias.

Trechos do Livro: Gênesis, de José Ribeiro Neto


INTRODUÇÃO


Gênesis é um dos livros mais importantes da Bíblia por narrar as origens do universo, do homem, do pecado, das nações e do povo de Israel. É um dos livros mais atacados por certos cientistas e mais criticado pelos incrédulos. Não é por menos, pois em Gênesis vemos o plano de Deus para o homem e até mesmo a derrota de Satanás através de Cristo (3.15).

Muitos exemplos para a nossa vida diária se encontram no livro e através de 12 lições, procuraremos aplicações práticas para a vida cristã. Ao estudar os relatos do livro, veremos o poder da Palavra de Deus e a beleza de suas narrativas, que tendo sido escrita a milhares de anos ainda assim são como uma carta aberta de Deus endereçada a cada um de nós para que aprendamos a viver mais perto dele e mais dentro de seus propósitos.


TÍTULO


A palavra Gênesis tem origem no grego guenessis que significa: origem. Os judeus deram a ele o nome de ber’eshyt, que significa: “no princípio”, de acordo com as primeiras palavras que aparecem no livro:


Ber’eshyt bara’ ‘elohym ‘et hashamaym we’et ha’arets


TEMA CENTRAL


O livro de Gênesis trata das origens de todas as coisas, como já foi dito na introdução, o objetivo é mostrar que toda a criação é fruto da ação de Deus e que Ele não só criou como também sustenta e dirige sua criação, e ainda, que ele tem um propósito último em todas as coisas criadas e na história do homem.

Todos esses pontos, relatados em Gênesis, nos dão a visão da importância do livro. Nele vemos os princípios e os objetivos de Deus, sua bondade, providência e propósito para todas as suas criaturas.

Temos também. Em Gênesis, o homem como criação principal de Deus, bem como a família humana como a cumpridora dos objetivos do Criador. Dentre as famílias humanas, Deus separa uma família especial, que é a família de Abraão, da qual vai surgir a família judaica, responsável diante de Deus por ser canal de bênçãos para todas as famílias da terra (Gn 12).



  1. ESBOÇO DO LIVRO1


I – Introdução

II – História primitiva

  1. A criação 1-2

  2. A queda e suas conseqüências 2-3

  3. O dilúvio 5-9

  4. A dispersão das nações 10-11

III – História patriarcal

  1. Abraão 12.1-25.18

  2. Isaque e Jacó 25.19-36.43

  3. José 37-50



  1. DATA E AUTORIA


Embora não esteja implícita a autoria, as evidências apontam para o único autor possível: Moisés; tem sido aceita a autoria mosaica tanto para a tradição judaica quanto para os protestantes ortodoxos. Embora seja questionada a autoria mosaica por liberais, em vista das evidências, tais contestações são insustentáveis.

Tendo em vista que o nosso estudo não visa apologia crítica, iremos simplesmente declarar o fato: Moisés é o autor de todo o Pentateuco, excetuando-se a parte que trata de sua morte, que deve ter sido escrita por Josué.

A data aproximada da escrita de Gênesis é de 1.440 a.C.


LIÇÃO I – NO PRINCÍPIO 1.1-6.7


Dentro dessa primeira divisão de Gênesis temos as seguintes subdivisões:


1.ª A criação dos céus, da terra e de todos os seres vivos, do ponto de vista geral (1.1-31)

2.ª A criação do homem e da mulher (2.1-25)

3.ª Tentação e queda do gênero humano (3.1-24)

4.ª Caim e Abel e o primeiro homicídio (4.1-26)

5.ª A intenção de Deus em destruir a raça humana corrompida (6.1-7)


1.ª A criação dos céus, da terra e de todos os seres vivos, do ponto de vista geral (1.1-31)


Como já mencionado, Gênesis é o livro das origens e em diversas narrativas do livro iremos perceber que Moisés narra os fatos do ponto de vista geral, para posteriormente se centralizar nos fatores mais importantes dentro do plano de Deus.

O propósito desse estilo é mostrar o plano geral de Deus ao realizar determinada ação, para posteriormente enfatizar os agentes específicos na realização de Seus propósitos.

No caso da narrativa do capítulo 1, Gênesis não pretende ser um tratado científico e muito menos filosófico de “como” Deus criou, mesmo porque, se o SENHOR assim o fizesse, nenhum cientista, em nenhum século, poderia entender.

Gênesis, na simplicidade e beleza da prosa hebraica, busca antes, mostrar o “porquê” da criação. Deus, o único Criador2, pois cria a partir do inexistente3, não só cria, mas cria com propósito pré-ordenado.

À luz do NT, muito mais claro se tornam os objetivos da criação:


em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados; o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. (Cl 1.14-17)


Vemos ainda, que no primeiro capítulo de Gênesis, o agente da criação é a Palavra, visto que a frase: e disse Deus: haja... e houve “4 é repetida diversas vezes. O entendimento de que a Palavra de Deus é o agente da criação se torna mais elucidado no NT, onde vemos ser Cristo o ”Verbo de Deus“(Jo. 1.1)”.

O Espírito Santo também está presente na obra criadora,


E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus5 se movia sobre a face das águas. (1.2)


OS DIAS DA CRIAÇÃO


1.º DIA – CRIAÇÃO DA LUZ E SEPARAÇÃO ENTRE LUZ E TREVAS


A luz é fundamental à vida, sem luz não haveria vida, alguns estudiosos dizem que a luz criada por Deus no primeiro dia foi uma espécie de luz espacial que iluminava a terra, uma vez que o Sol e as estrelas só foram criados no quarto dia. Essa luz criada no primeiro dia proporcionou a sobrevivência das plantas até que o sol fosse criado no quarto dia.


2.º DIA – CRIAÇÃO DA EXPANSÃO NO MEIO DAS ÁGUAS


É interessante que a palavra hebraica para céu (hashamaym), é plural, dando a idéia de várias partes, assim também a palavra hebraica para água (maym), possui a idéia de pluralidade.

Não sabemos como era o planeta Terra nos primeiros momentos de sua existência, contudo, conforme nos dá a entender a narrativa, parece que havia águas acima e abaixo dos céus.


3.º DIA – APARECIMENTO DA PORÇÃO SECA – CRIAÇÃO DAS ERVAS VERDES – CRIAÇÃO DAS ÁRVORES FRUTÍFERAS


As ervas surgiram a partir da porção seca, ou seja, nessa parte da narrativa nós lemos que Deus deu ordem à porção seca para que produzisse as plantas e as árvores frutíferas e a partir delas as sementes seriam produzidas, ficando ao encargo do homem o aprendizado do plantio e do cultivo.


4.º DIA – CRIAÇÃO DOS GRANDES LUMINARES E DAS ESTRELAS


A perfeição da criação de Deus é impressionante, hoje se sabe que o sol e a Lua são essenciais à vida na Terra. Ambos não poderiam estar nem mais próximos nem mais distantes do planeta, se estivessem, não seria possível a vida na Terra.

Gênesis mostra, desse modo, que é a narrativa da criação mais perfeita, não poderia ter sido escrita pelos homens daquela época, visto que os mesmos não tinham os conhecimentos científicos que temos hoje para compor uma narrativa tão perfeita.

5.º DIA – CRIAÇÃO DOS SERES MARINHOS – DOS RÉPTEIS – DAS AVES

Aqui há palavras hebraicas para animais de difícil tradução, algumas traduções trazem no v. 21 “grandes baleias”, os judeus traduzem “grandes peixes”, outras versões dizem: “grandes animais marinhos”, Deus pode ter revelado a Moisés animais que foram criados e que se extinguiram por algum motivo desconhecido, talvez seja esse o grande mistério a respeito dos dinossauros e não como querem os evolucionistas. O que é claro, é que Gênesis nos indica que as espécies (myn), desde a criação eram separadas e não que surgiram de um processo evolutivo.


6.º DIA – CRIAÇÃO DE OUTRAS ESPÉCIES DE ANIMAIS E A CRIAÇÃO DA RAÇA HUMANA


Aqui vemos Deus completando a criação das espécies animais, contudo, o principal fato ocorrido no sexto dia foi a criação do gênero humano.

O homem é o auge da criação de Deus, é a coroa da criação. De acordo com Gênesis não é possível entender o homem como um simples animal como todos os outros, não, o homem é a imagem (tselem) e semelhança (demut) de Deus.


E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. (Gn. 1.26-28)


Esta narrativa nos traz à luz a importância do homem na criação. Ele o criou para governar a criação. O homem foi criado para ser o governante da terra, dos seres viventes e da humanidade. A terra era para ser o lugar de uma grande família onde Adão seria o líder que governaria os seres humanos e os animais para o louvor e a glória de Cristo.


No final do capítulo 1, lemos que Deus viu que tudo o que tinha feito era muito bom. Em seis dias Deus criou todas as coisas. Há discussões teológicas sobre a palavra dia (yom) em Gênesis, alguns sugerem que os dias não são dias literais de 24 horas, mas períodos indeterminados de tempo. Embora seja “anticientífico” pensar em dias de 24 horas, me parece que o texto deixa claro esse fato. A ciência não pode ser a base da nossa interpretação, mesmo porque ela vive mudando e não podemos nos comprometer com todos os seus princípios.


2.ª A CRIAÇÃO DO HOMEM E DA MULHER 2.1-25 (A NARRATIVA ESPECÍFICA)


Gênesis é uma bela prosa literária oriental e tendo Deus respeitado as particularidades e estilos de cada autor, percebemos estas particularidades em cada livro da Bíblia.

Em Gênesis é comum o autor, Moisés, partir de uma narrativa geral, como é o caso do capítulo 1, para uma narrativa específica, como é o caso do capítulo 2. Assim, o capítulo 2 centraliza a narrativa no casal humano, o centro dos propósitos de Deus.

No capítulo 2 nos é detalhada a forma e os propósitos da criação do ser humano. Também no capítulo 2 de Gênesis é descrito o primeiro sábado, em hebraico shabat, que significa descanso:


Assim, os céus, e a terra, e todo o seu exército foram acabados. E, havendo Deus acabado no dia sétimo a sua obra, que tinha feito, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra, que Deus criara e fizera. (2.1-3)


É evidente que quando se diz que Deus descansou é usada uma figura de linguagem em referência ao término da obra criadora do universo e do homem, entretanto, Deus não descansa, Ele não para de trabalhar e de criar6, isso é demonstrado nas passagens abaixo:


Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o SENHOR, o Criador dos confins da terra, nem se cansa, nem se fatiga? Não há esquadrinhação do seu entendimento. (Is 40.28)


E, por essa causa, os judeus perseguiram Jesus e procuravam matá-lo, porque fazia essas coisas no sábado. E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. (Jo 5.16-17)


Como se pode ver, o nosso Deus não é estático, e nem deixou o mundo ao léu, como querem os deístas. O Deus trino não para de trabalhar, se descansasse por um segundo, todo o universo deixaria de existir, por isso o autor de Hebreus nos diz:


O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da Majestade, nas alturas; (1.3)


Ou seja, Deus não só criou todo o universo, mas Ele sustenta “todas as coisas pela Palavra do seu poder”, por meio de Jesus, o verbo de Deus, Ele criou e sustenta toda a criação.


CRIAÇÃO DO HOMEM E DA MULHER


Nesta narrativa mais específica de Gênesis, entendemos que Deus criou todas as coisas e o homem foi a última das criações de Deus. Ele deixou tudo pronto, animais, clima perfeito, toda a harmonia necessária para que o homem e a mulher fossem felizes e vivessem para a Sua glória, governando toda a Sua criação.


O homem foi criado do pó da terra (“afar min-ha’adamah). A palavra para homem em hebraico (‘adam), tem a mesma origem da palavra para terra (‘adamah), e é cientificamente comprovado que as propriedades presentes no homem estão também presentes na terra.


Não sabemos a localização exata do Éden, mas dois dos rios mencionados no capítulo 2.10-14 são conhecidos: o Chideqel, ou Tigre, e o Eufrates. O texto fala do bdênio, que é uma resina aromática amarelada.7 Estes dois rios são rios da Antiga Mesopotâmia, onde atualmente se encontra o Iraque.


Deus colocou o homem no Éden “para o lavrar e guardar” e colocou um teste para o primeiro casal humano, que consistia em um teste de obediência. Duas árvores foram colocadas no jardim: a árvore da ciência do bem e do mal e a árvore da vida (v. 9). A proibição era somente em comer a árvore da ciência do bem e do mal; toda a outra árvore, inclusive a árvore da vida, estava disponível para que o homem comesse.


Conhecendo o SENHOR a necessidade do homem fez cair um sono profundo e formou a mulher para ser adjuntora dele, que esteja como diante dele (“ezer knegdo), a idéia hebraica é de grande beleza, a palavra neged, que significa diante de, traz a idéia de alguém que está próximo, alguém com que se possa conversar (nagad= contar, tornar conhecido).


Esta palavra ocorre em contextos de aliança. A lei de Deus devia ser lida defronte Israel (i.e., de forma que todos ouvissem, Dt 31.17; cf. Js 8.35; Ed 8.3). As alianças públicas dos homens eram publicamente enunciadas (I Re 8.22) e postas em vigor de modo que toda a comunidade testemunhasse o ato.8


Deus fez o casal humano para que ambos se ajudassem, que fossem disponível um ao outro. O que leva muitos casais a contendas e separações é o fato de não estarem disponíveis uns aos outros para se ajudarem. Os problemas do dia a dia acabam afastando os casais, de modo que já não podem estar à frente (negued) um do outro para a ajuda mútua; é ainda interessante notar que quando o tentador tentou Eva ela estava só. O casal que quiser vencer as tentações sem o seu auxiliador certamente vai cair; Deus fez homem e mulher para estarem um diante do outro, prontos para se ajudarem.


O homem e a mulher, marido e esposa, estão intimamente ligados como uma só carne. Esta ligação íntima se dá através do casamento e da relação sexual. A relação sexual foi criada por Deus com vários propósitos: para procriação, para a alegria do casal humano e também para que o homem e a mulher tivessem intimidade. O hebraico usa continuamente a expressão “e conheceu sua mulher...” para falar do ato sexual. O verbo hebraico para conhecer é yada” que traz o sentido de um conhecimento íntimo.


A esposa conhece o homem na sua intimidade por causa da relação sexual, nesta relação eles não têm nada o que esconder um do outro, se conhecem por inteiro.


O relacionamento sexual tem sido deturpado em nosso mundo contemporâneo de modo que as pessoas têm revelado suas intimidades para várias outras pessoas, tornando quase que pública sua intimidade e acarretando com isso vários problemas pessoais. A vontade de Deus é que tenhamos intimidade com uma só pessoa a fim de conhecermos essa pessoa e termos uma profunda intimidade de relacionamento.


3.º TENTAÇÃO E QUEDA DO GÊNERO HUMANO


O Capítulo 3 narra o princípio do pecado, a astuta serpente, satanás, o diabo, através de suas artimanhas engana a mulher e através dela seu marido.


Vemos aqui que a mulher quis agir por conta própria, poderia muito bem ter chamado seu marido, mas preferiu tentar enfrentar sozinha o tentador.


A serpente foi usada como instrumento do diabo, é claro, com a permissão de Deus, foi a primeira prova proposta por Deus ao homem, mas o homem foi fraco e caiu.

Podemos fazer uma análise da tentação mais detalhada:


O DIABO LEVANTA UMA QUESTÃO COM UMA FALSA AFIRMAÇÃO


É comum que o inimigo nos faça questionar as leis de Deus, ele faz com que sejamos levados a pensar se Deus está realmente certo no que diz:


Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? (3.1)


É uma inversão da Palavra de Deus, é uma forma de questionar: por que não podemos comer desta árvore? O questionamento é uma forma de dúvida ao caráter de Deus, quando questionamos, duvidamos do mandamento e estamos duvidando da própria pessoa de Deus. A obediência não duvida, logo que confia que os mandamentos de Deus são bons, visto que Deus é bom.

A FALTA DE CONHECIMENTO DA PALAVRA DE DEUS ABRE A GUARDA PARA O INIMIGO


A mulher não tinha um conhecimento preciso do que Deus tinha dito, visto que sua resposta à serpente foi imprecisa:


E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas, do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais. (3.2-3)


“... nem nele tocareis...” é por conta da mulher. A falta de preparo bíblico nos impede de estarmos vacinados contra a doença do pecado. Perceba que a mulher conhecia a Palavra de Deus, mas faltou a precisão, faltou conhecimento mais exato. Não basta conhecermos a Bíblia (a Palavra de Deus), precisamos ter um conhecimento exato da mesma.


O INIMIGO CHAMA DEUS DE MENTIROSO


É comum que o diabo, na tentação, use sempre esta estratégia, ele afirma que a Palavra de Deus não é verdadeira, o que Deus disse que aconteceria não iria acontecer.

Deus disse:


mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás. (negrito nosso)9


O diabo disse:


Então, a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. (negrito nosso)10

O inimigo age da mesma forma hoje, ele diz: não tem problema, um pecadinho não vai te matar, o que Deus disse não é verdade.


Mas se a tentação ocorre da mesma forma e o tentador não mudou sua forma de agir, por que ainda caímos na tentação?


A resposta é simples, caímos em tentação por fazermos como Eva:


    1. Damos oportunidade para que o diabo questione Deus;

    2. Temos um conhecimento superficial da Palavra de Deus;

    3. Aceitamos as mentiras do diabo.


Diferente do primeiro Adão, o segundo Adão, Jesus, não caiu em tentação, como podemos notar nas seguintes passagens:


Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão, em espírito vivificante. Mas não é primeiro o espiritual, senão o animal; depois, o espiritual. O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu. (I Co 15.45-47)


E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. (Mt 4.3-4)


Adão como representante da raça humana, tendo pecado, acarreta para a raça humana e para toda a criação as conseqüências do pecado.


Cristo, o segundo Adão, se comportou de maneira completamente diferente, embora as astúcias de satanás tenham sido as mesmas:


A. QUESTIONAMENTO: “SE TU ÉS O FILHO DE DEUS...”


A mesma dúvida com respeito a Deus foi levantada pelo diabo, contudo, Jesus não deu crédito aos questionamentos de satanás, e usando a Palavra (está escrito), Ele vence o tentador.


B. O DIABO NOVAMENTE ATUA NO CONHECIMENTO DA PALAVRA DE DEUS:


e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra. (Mt 4.5, 6)


Porém, agora, o diabo não está mais lidando com Eva, que conhecia só superficialmente a Palavra de Deus. Desta vez era Jesus, que vence mais essa investida do tentador utilizando-se do Seu conhecimento da Palavra:


Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus. (4.7)


O tentador continua de forma semelhante ao que fez com Eva, oferecendo recompensas:


E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. (4.9)


E outra vez Jesus nos mostra que só podemos resistir à tentação conhecendo e utilizando a Palavra de Deus, pois Ele responde ao tentador:


Então, disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás. Então, o diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos e o serviram. (4.10-11)


Ainda que nossos primeiros pais tenham sucumbido à tentação, Jesus como nosso novo representante nos liberou da servidão do pecado para a liberdade de filhos de Deus, pois cremos em seu nome (Jo 1.12).


Gênesis, tendo como objetivo falar sobre as origens narra no capítulo 3 a origem do pecado. Sem esse relato não saberíamos a causa de tanto mal e destruição no coração do homem.


A resposta para o sofrimento e a morte está no fato do pecado original. A comunhão que o homem tinha com o Criador foi rompida por causa do pecado. Mas é o próprio Deus que procura o homem para restaurar aquela antiga comunhão.


E chamou o SENHOR Deus a Adão e disse-lhe: Onde estás? (Gn 3.9)


E fez o SENHOR Deus a Adão e a sua mulher túnicas de peles e os vestiu. (Gn 3.21)


O pecado trouxe separação, mas o amor de Deus é tão grande que mesmo sendo Ele o ofendido, é Ele que provê a reconciliação.


E tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados, e pôs em nós a palavra da reconciliação. (II Co 5.18-19)


A Bíblia, em Gênesis, mostra a origem e a gravidade do pecado, mas também mostra a grandeza de Deus ao redimir o homem através de Cristo.


4.ª CAIM E ABEL E O PRIMEIRO HOMICÍDIO 4.1-26


O capítulo 4 continua mostrando as origens, e aqui nos mostra a origem de um dos mais graves erros do homem, o homicídio. A origem de todas as guerras, ódio, inveja e de todo o mal está aqui, na história de Caim e Abel; dentre as frases, a mais marcante da narrativa está a palavra de descaso de Caim:


E disse o SENHOR a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão? (Gn 4.9)


O bom comportamento de Abel causou inveja em seu irmão Caim. Abel tinha o coração entregue a Deus e numa atitude de louvor e adoração entregou a Deus, dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o SENHOR para Abel e para a sua oferta (4.4).


Caim no seu mau comportamento trouxe a Deus do fruto da terra, pois era lavrador, mas o que Caim trouxe ao Senhor não era das primícias, não era o melhor, e Deus não atentou para a sua oferta.

O que Caim não percebeu é que o problema não estava em Abel, nem em Deus, e nem ainda na oferta, mas no coração pecaminoso do próprio Caim11 e em sua falta de domínio.


E o SENHOR disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante?

Se bem fizeres, não haverá aceitação para ti? E, se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e para ti será o seu desejo, e sobre ele dominarás. (4.6-7)


A idéia original do texto é de que o pecado é como um animal raivoso à porta da nossa casa, mas que Deus deu livre arbítrio ao homem para poder dominá-lo.


Caim não dominou o pecado, a inveja que tinha da justiça de seu irmão o fez mata-lo trazendo assim ruína à sua vida. Agora não podia mais cuidar da terra sem lembrar que a mesma estava desde então manchada de sangue.


Quando lavrares a terra, não te dará mais a sua força; fugitivo e errante serás na terra. (4.12)


O primeiro homicídio da história humana marca para sempre a terra criada por Deus, que em cada assassinato é uma testemunha da violência e falta de amor ao próximo. O gênero humano terá que dar contas a Deus pelos milhares de vidas assassinadas e pelo mar de sangue sobre a terra, pois lemos:


Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas; e a uns deles matareis e crucificareis; e a outros deles açoitareis nas vossas sinagogas e os perseguireis de cidade em cidade, para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar. (Mt 23.34-35)


Até o fim dos tempos o homem dará conta do sangue de seu irmão que tem derramado sobre a terra, mas Deus não é cruel que não ofereça oportunidade de arrependimento, o sinal colocado pelo Senhor em Caim não foi para marcá-lo, mas como diz o texto: “...para que não o ferisse qualquer que o achasse” (Gn 4.15).

Parece, contudo, que a geração de Caim não foi justa diante de Deus, pois nos versos que seguem vemos que se corromperam. É onde Deus começa a separar uma linhagem para seu louvor.

5.ª A Genealogia de Adão e a separação da linhagem de sete – 5.1.-32


O capítulo 5 de Gênesis parece ser sem significado, mas é uma descrição de como Deus começou a separar uma linhagem diferenciada da humanidade que o servisse. A linhagem de Sete foi a linhagem separada por Deus para que o cumprimento messiânico de Gn. 3.15 se cumprisse, e após a morte de Caim, a própria Eva tem uma visão profética desse fato, como lemos:


E tornou Adão a conhecer a sua mulher; e ela teve um filho e chamou o seu nome Sete; porque, disse ela, Deus me deu outra semente em lugar de Abel; porquanto Caim o matou. (Gn. 4.25)


E o próprio Sete gera um filho chamado Enosh (humano, talvez no sentido de uma humanidade que servisse a Deus), e o texto nos dá um marco importante a partir de Enos:


E Sete mesmo também nasceu um filho; e chamou seu nome Enos; então, se começou a invocar o nome do SENHOR. (4.26)


Vemos nesse capítulo, ainda, alguns personagens que se destacam na sua busca a Deus e à sua vontade, por exemplo:


Enoque - em uma breve descrição é dito que Enoque andou com Deus e não se viu mais, porquanto Deus o tomou para si (5.24). Este pequeno relato nos dá o indício de que Enoque tinha uma comunhão tão profunda com Deus que foi arrebatado às alturas, e assim o Novo Testamento nos confirma esse relato:


Pela fé, Enoque foi transladado para não ver a morte e não foi achado, porque Deus o transladara, visto como antes de sua transladação, alcançou testemunho de que agradara a Deus. (Hb. 11.5)


Lameque – parece que tinha uma esperança messiânica, visto que deu o nome de Noach (Noach = Noé) a seu filho, o nome Noé vem de uma raiz hebraica que significa “consolação”, e é o que o próprio texto explica: ... Este nos consolará acerca de nossas obras e do trabalho de nossas mãos, por causa da terra que o SENHOR amaldiçoou. (5.29).


O objetivo dessa narrativa genealógica é traçar a linhagem de Sete até chegar a Noé, que foi o grande instrumento de Deus para a propagação de sua mensagem de destruição da impiedade e de oportunidade de arrependimento.


Mesmo no meio de uma geração corrupta Deus separa um povo para sua glória, não importa o quão mau é o nosso século e a geração que nos acompanha, devemos servir a Deus de modo que sejamos a geração que seja separada para o louvor e a glória do Seu nome.



6.ª Deus resolve acabar com a humanidade corrompida – 6.1-8


Embora sejam estes versículos controversos na teologia, nosso propósito, na Escola Bíblica Dominical é tão somente observarmos quais são as aplicações práticas do texto para a nossa vida diária, logo não entraremos em detalhes sobre posições teológicas, tão somente colocaremos os pontos que pensamos ser importantes dentro da posição que achamos mais correta.


No capítulo anterior (Cap. 5), nós vemos a preocupação de Moisés em traçar a história dos descendentes de Adão após o primeiro homicídio cometido por Caim. Após o assassinato de Abel, Eva ao ter um outro filho coloca-lhe o nome de Sete dizendo:


... porque disse ela, Deus me deu outro filho em lugar de Abel; porquanto Caim o matou. E a Sete também nasceu um filho; e chamou o seu nome Enos; então se começou a invocar o nome do Senhor. (Gn 4.25-26)


O capítulo 5, então, é uma continuação do 4 traçando a genealogia de Sete, mostrando assim que Deus estava separando uma linhagem para a vinda do Messias prometido em Gn 3.15.


Ao iniciar o capítulo 6, não há dúvida – embora alguns tenham – de que o objetivo de Moisés é narrar a degradação do gênero humano que foge dos propósitos de Deus. O Capítulo ainda mostra que mesmo em meio a uma geração corrupta e perversa Deus encontra um homem que lhe é agradável, um que possa achar graça aos seus olhos, o nome deste homem era Noé, que como já foi explicado acima, significa consolação. Assim, Deus se consolou, pois embora aquela geração seria destruída pela sua maldade, o SENHOR continuaria seus propósitos de enviar salvação através da linhagem de Sete, e mais tarde de Sem.

Uma lição muito importante estes versos nos trazem. Muitas pessoas se deixam levar pela moda da geração e acabam se corrompendo com os pecados da mesma, mas como veremos mais adiante, Noé se destacou como alguém que servia a Deus e fazia diferença no meio da sua geração; Assim também nós devemos fazer diferença e ser instrumentos nas mãos de Deus em nosso tempo.

1 - Paul HOFF, O Pentateuco, p. 22

2 - o verbo hebraico bar’a, que significa: criar, só é usado no AT para os atos de Deus

3 - ex nihilo

4 - way’omer ‘elohym yhy ... wayhy

5 - ruach ‘elohym

6 - esta figura de linguagem se chama antropopatismo, que é nome que se dá quando o autor humano, usa analogias humanas para expressar os sentimentos de Deus.

7 - Bíblia de Estudo Plenitude, p. 7, comentário sobre os vss. 10-14 do cap. 2

8 - DITAT 1289

9 - mot tamut, literalmente: morrendo morrereis, ou morte morrereis

10 - l’o mot temuten, literalmente: não morte morrereis

11 - a oferta só era um reflexo de seu coração